A expressão “caixão não tem gavetas” geralmente é usada por quem quer
alfinetar algum mão-de-vaca que só pensa em acumular riquezas; como não
cogita a hipótese de dividir seu rico dinheirinho, o sovina precisa ser
lembrado de que, quando partir desta para melhor – ou para pior,
dependendo do caso – não levará consigo seus bens materiais.
E, mesmo sendo uma frase absolutamente desgastada – e nada original
-, “caixão não tem gavetas” traz em suas palavras uma verdade
incontestável: apenas o nosso corpinho gélido e algumas flores
“rechearão” nosso “paletó de madeira”.
Cruzes… que assunto mórbido…
Mas não quero escrever sobre morte nesta postagem; não porque ache
que traga azar tratar desse tema; não sou mulher de acreditar em sorte
ou azar.
Hoje quero escrever sobre a vida, mas não sobre a que pulsa dentro de nós enquanto nosso coração bate.
Quero refletir sobre as marcas que deixaremos assim que formos
“convocados” a nos retirar do “palco”; quero imaginar como seremos
lembrados pelas pessoas com as quais convivemos durante o período em que
estivemos por “aqui”.
Martha Medeiros diz em uma das suas crônicas que uma pessoa só morre
quando a última pessoa que pode se lembrar dela também morre. Isso
exclui as grandes personalidades, é claro, que serão sempre lembradas
pelas gerações futuras.
E essa reflexão da escritora quer dizer que poderemos estar “vivos”, mesmo quando não estivermos mais de corpo presente.
De que maneira?
Quando alguém se lembrar de algo que fizemos ou falamos e que fez a
diferença na sua vida; quando as nossas obras – na vida familiar,
afetiva, profissional ou social – produzirem frutos doces e suculentos;
quando um filho, aluno ou amigo não fizerem uma escolha errada porque
pensaram em um ensinamento que deixamos.
Sei que nunca é agradável pensar no fim da nossa trajetória nesta
vida terrena; eu sou cristã e creio na vida eterna, mas peço a Deus que
ainda possa passar uma boa temporada por aqui.
Entretanto, mesmo que essa minha passagem dure uns bons anos, um dia
serei apenas uma lembrança para aqueles que me conheceram, para aqueles
que me amaram.
E eu não levarei nada desta vida… mas sei exatamente o que vou deixar para os que ficarem.
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